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Vaporetto: 34 anos de uma pizza família

Em entrevista ao Zine Negócios, a empresária Carol Campos relembra os desafios e vitórias dos últimos anos à frente do Vaporetto

Quando falamos em conexão com o próprio negócio, alguns gostam de dizer que nasceram para fazer o que fazem. Outros gostam de usar “paixão” para explicar tal elo. Alguns, têm um laço tão natural, que “nascem” dentro de sua empresa. E outros, pouquíssimos, podem dizer tudo isso. Um desses casos é o de Carol Campos, ou melhor, Carol Vaporetto, afinal, em casos ainda mais raros, há quem seja tão conectado com o que faz que traz o negócio para o próprio nome. 

Para entender um pouco mais dessa conexão, é preciso voltar ao ponto onde Carol e Vaporetto se conheceram para, a partir daí, explicar como a tradicional pizzaria juiz-forana chegou aos seus 34 anos sob o comando de uma empreendedora da nova geração. E, para isso, precisamos falar do casal de empresários Ana Lúcia e Fernando Campos, os pais de Carol e Vaporetto. 

O empreendimento surgiu em 1988 a partir da inquietude de Fernando. Na época, o empresário entregava pizzas para outras pizzarias, inaugurando um serviço que até então não existia em Juiz de Fora. Há quem diga que o empreendedor foi o primeiro motoboy da cidade. No vai e vem do delivery, percebeu que poderia prestar o mesmo serviço só que para o próprio restaurante – e bolso. Ao lado da esposa, criou então o Vaporetto, autêntica casa de massas artesanais com inspiração italiana.

A dedicação do casal ao negócio sempre foi muito evidente. Fernando passou a somar esforços para construir novas unidades do empreendimento que crescia cada vez mais. Ana Lúcia, por sua vez, abdicou da carreira de dentista para se concentrar por completo na operação. Em 1993, por exemplo, ela não deixou de fazer entregas de Kombi por conta da gravidez. E foi naquele ano que Carol chegou. “Quando eu nasci eles saíram correndo do Vaporetto porque eu tinha que nascer. Senão, eles continuariam trabalhando”, relembra. Um ano depois o irmão Rafael também chegava para aumentar a família.

Do nascimento, passando pela infância, o mundo de Carol era o Vaporetto – localizado na época, no antigo casarão da Barão de Cataguases – como conta a empreendedora. “Desde criancinha, a gente ficava no parquinho, brincava de trabalhar, atender telefone, ficava na balança do self service. No final da noite dormia em cima da mesa e nossa coberta era a toalha que a cobria. A gente viveu o Vaporetto todos esses anos.”

Antiga sede do Vaporetto localizada na Rua Barão de Cataguases (Foto: divulgação)
Antiga sede do Vaporetto localizada na Rua Barão de Cataguases (Foto: divulgação)

Início conturbado

Na medida em que a filha de Fernando e Ana Lúcia foi crescendo, viu também evoluir o desejo de um dia estar à frente do empreendimento da família. Mas essa não foi uma jornada fácil. Quando decidiu de fato ingressar no negócio, a então graduanda de Administração da Universidade Federal de Juiz de Fora, viu na diferença de idade, de quase três décadas com o pai, um dos maiores obstáculos em sua carreira como empreendedora: o choque de gerações.

“O início foi muito difícil. Eu e meu irmão ingressamos no Vaporetto em 2013. Eu tinha 21 anos. Primeiro teve um choque de geração muito grande com meu pai. Ele precisava entender a nova geração midiática e online e que os clientes querem experiência, além de um produto de boa qualidade e ótimo atendimento.”

Foram quase três anos até que o pai aceitasse as novas ideias. A aprovação de Fernando contava muito mais do que um mero aval, pois Carol admirava muito ele. “Mesmo diante das diferenças, meu pai é minha vida e minha inspiração.”

Família Vaporetto: Fernando, Ana Lúcia, Rafael e Carol (Foto: Arquivo pessoal)
Família Vaporetto: Fernando, Ana Lúcia, Rafael e Carol (Foto: Arquivo pessoal)

Mas, as dificuldades não pararam por aí. Uma mulher, ocupando uma posição de liderança, incomodou. “Só quem é mulher, quem sofre e sente, sabe como é. Quem sofre na pele o dia a dia do preconceito. Eu, mulher, 21 anos, substituindo meu pai, o pessoal sentiu muito essa mudança. Tinha cliente que dizia ‘eu quero falar com o Fernando, com você eu não falo’. No início, eu tentava resolver rapidamente e chorava no canto.”   

Conquistar a confiança do pai e dos clientes não foi o fim da linha das provações, faltava a equipe. “Eu sou a dona, mas nunca estive nesse papel. Eu trabalhava igual eu trabalho hoje, junto com todo mundo. Os colaboradores tiveram muita dificuldade de me aceitar no lugar do meu pai. Pra homem, você pega e abaixa a cabeça. Comigo não era assim. Até eu ganhar o respeito, o carinho da equipe foi difícil.”

No ínterim das conquistas de pessoas, Carol também realizou as suas próprias. Formou-se em Administração em 2016 e em Direito em 2019. A capacitação, segundo ela, fez toda diferença para tocar o empreendimento e tomar as decisões mais transformadoras do Vaporetto.   

Carol Campos, a jovem empreendedora que une inovação e tradição à frente do Vaporetto (Foto: Arquivo pessoal)
Carol Campos, a jovem empreendedora que une inovação e tradição à frente do Vaporetto (Foto: Arquivo pessoal)

Mudanças implementadas

Quando Carol e Rafael assumiram de fato a frente da empresa, alguns gargalos financeiros e de controle de estoque ficaram evidentes. Mas outro grande problema ficou claro: o excesso de trabalho do pai. “Meu pai era completamente submisso ao trabalho dele. Não viu a gente crescer. Ele tinha 6 lojas sem nenhum sócio. Tinham esses problemas técnicos, teóricos, de produção, controle de estoque e financeiro, e zero qualidade de vida.”

Com foco em não cometer os mesmos erros do passado, a primeira grande decisão foi tomada ainda em 2015: fechar unidades. “Foi muito difícil mandar colaboradores embora. Além disso, a imagem para Juiz de Fora ficou como se o Vaporetto estivesse falindo. Mas, o que queríamos era arrumar a casa para atender melhor e manter nosso produto com a qualidade que sempre teve.”

Com as unidades fechadas, as atenções se voltaram para a “unidade mãe”, na Barão. “Vimos a casa um pouco mais vazia e o pessoal meio sem entender o que estava acontecendo. Começamos um retrabalho de comunicação e de marketing super ativos, participação em eventos, mudança de cardápio, e ainda mudamos a identidade visual inteira. Veio ainda a carta de drinks e coisas que não existiam no Vaporetto.”

Quando todo esse movimento começou a dar resultados mais expressivos, o negócio foi atingido em cheio pela pandemia. “Se tivéssemos a quantidade de lojas que tínhamos, a gente não conseguiria superar a pandemia. Foi uma decisão muito acertada.”

Foi durante esse período que outra importante decisão foi tomada: mudar a sede após 31 anos de atividade em meio a um período de incertezas. “A gente tinha a possibilidade de continuar lá, esperar a pandemia passar sem saber o que iria acontecer ou sairmos para outro lugar. A gente precisaria investir pesadíssimo enquanto estava tudo fechado. Fizemos.”

Nova sede do Vaporetto na Rua Benjamin Constant (Foto: Arquivo pessoal)
Nova sede do Vaporetto na Rua Benjamin Constant (Foto: Arquivo pessoal)

E novamente deu certo. “Reformamos uma casa na Benjamin Constant, com outro conceito, outra cara, muito mais moderna. Mudamos o cardápio de novo e quando houve a reabertura já estávamos de casa nova. E o público aceitou super bem. O público antigo gostou e conquistamos novos clientes. Vimos na crise uma oportunidade de crescimento.”

Recentemente, uma nova decisão importante foi tomada com a inauguração de um novo conceito de Vaporetto. 

Expresso e apaixonante

Carol relembra que ainda na faculdade fez um curso de franchise que a inspirou. “Quando eu assumi o Vaporetto minha ideia era passar de seis unidades para dez, depois 30. Mas fomos obrigados a dar um passo atrás. E isso foi mais um gatilho para crescer. Quando nos estabilizamos na Benjamin percebemos que estávamos prontos para dar um novo passo, e esse novo passo seria sem grandes unidades do Vaporetto.”

E assim, surgiu a ideia do Vaporetto express, com uma proposta diferente: vender apenas fatias de pizza aos clientes. Um produto mais barato e mais simples de ser fabricado e vendido. “Uma loja totalmente escalonável, com operação simples e que tivesse a mesma qualidade Vaporetto. Essa é a ideia. Do ponto de vista operacional, os produtos chegam todos prontos na loja, precisando apenas de forno e estocagem. Uma forma de ser um serviço simples e rápido para o cliente, e mais barato.” 

Unidade do Vaporetto Express inaugurada em abril no Shopping Alameda (Foto: Anderson Ferreira)
Unidade do Vaporetto Express inaugurada em abril no Shopping Alameda (Foto: Anderson Ferreira)

A primeira unidade foi inaugurada em abril deste ano. Nos planos da empresária, a curto prazo, Juiz de Fora deve ganhar mais duas unidades antes da linha express ganhar o país. A partir daí, o Vaporetto terá uma “linha industrial” e sua sede na Benjamin será para quem quiser conhecer a história da tradicional pizzaria, marcada pela paixão e conexão.  

“Poucas pessoas que eu converso sentem o mesmo que eu, o amor pela marca. Todo mundo acha que isso é clichê, piada. Eu praticamente nasci lá dentro. O que eu vi meu pai passar, toda a evolução, quedas, aprendizados, tudo que eu já passei em pouco tempo de transformação e mudança só aumentou esse sentimento. O Vaporetto é minha vida e minha família.”

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