Diogo Souza Gomes aprendeu cedo que a vida não é feita de planos mirabolantes, mas de ritmo. E ele parece ter seguido à risca a batida que o destino lhe impôs. Nasceu em Juiz de Fora, em 1981, numa família grande, musical e unida — dessas que fazem do sítio de fim de semana um evento fixo no calendário afetivo. O pai, figura festeira e carismática, era o centro gravitacional dessa constelação. Com ele, aprendeu a arte de celebrar a vida.
“A nossa infância foi praticamente nessa batida de final de semana em família, junto com primos e junto com tios, sempre muita música envolvida. Apesar de não tocar nenhum instrumento, meu pai amava música, então, sempre tinha música ao vivo na granja, de amigos, de rodadas de violão e tal.”

Mas a história muda aos 13 anos. Diogo perde de forma precoce o pai. E a reboque da perda afetiva veio o impacto financeiro. E é nesse ponto da vida que a mãe, Norma, ganha novos significados.
“A gente passou muito aperto. Não passamos fome porque tinha família dando suporte. Minha mãe era dondoca total. E ela foi genial nessa transição de conseguir ser ainda a mãe, que virou pai e que foi trabalhar, mas que continuou dando conta do lado afetivo. E ela trabalhou muito durante esses anos todos para pagar contas. Então, vendo tudo aquilo ali, a gente não tinha outro jeito a não ser seguir os passos dela.”

E pra lidar com tantas mudanças Diogo se apoiou em um parceiro que o acompanha até hoje: o cavaquinho. Surgiu como desculpa para andar com os primos mais velhos, depois como válvula de escape. O hobbie então virou profissão. A banda “Qual é do Samba”, que virou “Zuarte”, marcou época nas rodas de samba da cidade.
Foi com o grupo musical também que Diogo aprendeu marketing na marra: panfletando em colégio, colando lambe-lambe de madrugada e lotando ruas da Itamar Franco (Av. Independência pros saudosos) com pagode. O apelido era inevitável: “o cara do cavaquinho”. A alcunha virou cartão de visita, e o bar virou palco, negócio e aprendizado. Durante a juventude, ele levava uma rotina que descreve como vida tripla: “de manhã eu estava na imobiliária, de tarde eu colava cartaz e panfletava, de noite eu ia fazer evento. E no dia seguinte eu estava de novo na imobiliária”.

Foi sócio de cinco empreendimentos noturnos — do Vila das Tochas à efêmera Slim. Alguns faliram, outros renderam boas histórias. Todos, porém, deixaram marcas que ajudaram a fazer da Souza Gomes o que é hoje.
Mas a música não era suficiente. Nem a noite. Nem o improviso. Enquanto vendia chopp e fechava bar de madrugada, Diogo construía um estilo de gestão baseado em processos, coerência e consistência.
“Nunca fui corretor. Nunca vendi um imóvel. Meu negócio sempre foi o administrativo. Nunca quis ser o filho da dona. Quis ser o filho que trabalhava. Eu não podia me dar o luxo de algum corretor mais velho achar que eu chegava na hora que queria. Então eu ia pra noite e no outro dia estava lá, sem faltar um dia de serviço”
Da recepção à direção, viu a empresa sair de seis funcionários para se tornar uma referência nacional no mercado imobiliário.
Uma vida assim, intensa, atribulada e dividida entre tantos papéis, cobra seu preço. Diogo chegou a pesar 161 kg. Os excessos não estavam só nos empreendimentos, mas também no estilo de vida. A virada veio com o nascimento do segundo filho e o fantasma da perda precoce do pai.
“Não quero deixar meus filhos com 40 anos igual meu pai deixou”

A bariátrica foi menos sobre vaidade e mais sobre urgência. Perdeu 55 kg. Passou a se exercitar, a comer melhor e a repensar prioridades. Parte dessa mudança também tem nome: Raquel. “Ela me conheceu na planta”, brinca. Acompanhou tudo — do boteco à transição para uma vida mais equilibrada.
Raquel, aliás, é seu divisor de águas. A conheceu numa sexta-feira, poucos dias depois de jurar que ficaria solteiro. Na segunda semana, já estavam namorando. Em seis meses, noivaram. Casaram no ano seguinte. Tiveram dois filhos, Nina e Hugo. É com ela que Diogo compartilha os bastidores da rotina, as angústias da liderança e os pequenos orgulhos diários. A vida corrida continua — mas agora com mais presença, leveza e propósito.

Hoje, Diogo se permite planejar pouco. Gosta de viver “um dia depois do outro”. Não quer ser o maior. Quer ser o melhor no que se propõe a fazer. A Souza Gomes, sob sua batuta, não precisa de maestro para funcionar. Os processos afinam a equipe. A partitura é coletiva. E o cavaquinho, embora menos presente, ainda toca. Não mais nas esquinas da Itamar Franco, mas nos bastidores de uma imobiliária que aprendeu a crescer com ritmo próprio — no compasso leve de quem conhece o movimento e não precisa acelerar.